quinta-feira, 24 de março de 2011

Universitária esfaqueada temia ações do admirador


Compartilhar com um terço nas mãos e um semblante que não escondia a alegria de ver a filha se recuperar das facadas que levou de um colega da faculdade, o aposentado Ailton Antônio Pinto, de 59 anos, contou que a estudante de medicina Maria Luiza Costa Pinto, de 21, tinha medo de Vitor Guilherme Carvalho Ribeiro, de 22.O rapaz confessou tê-la agredido por causa deum amor não correspondido. Ontem, na enfermaria do Hospital de Pronto Socorro João XXIII (HPS), em Belo Horizonte, a jovem prestou depoimento e contou à polícia que não conseguiu verquem era o agressor. Mesmo ferida pelas nove facadas, Maria Luiza conseguiu desarmá-lo, enquanto Vitor lutava com seu pai. O crime ocorreu na madrugada de domingo, quando a estudante voltava para casa depois de uma festa.

"Certa vez, perguntamos sobre os namorados na faculdade e ela respondeu que havia um rapaz interessado nela, mas que não queria nenhum envolvimento porque tinha medo dele. Falávamos do próprio, sem imaginar que um dia poderia ocorrer algo assim. Malu disse que ele era 8 ou 80, que fez elogios abruptos ao se declarar, deixando-a assustada. Ela me contou hoje (ontem) que até disse para ele tentar se envolver com outras meninas para esquecê-la, mas Vitor respondeu que não conseguiria porque era apaixonado pela minha filha e a encontrava todos os dias", afirmou Ailton, que passou a tarde administrando as visitas de amigos e parentes da jovem, todos chocados com a violência do jovem rapaz. - Maria Luiza perdeu a vesícula e teve que fazer suturas no pulmão, rim e fígado, mas se recupera bem.

De acordo com o pai da estudante, ela está tranquila e não fala do colega com raiva ou mágoa. Questionado sobre o que sentiu ao receber a família de Vitor, que o procurou no hospital para pedir perdão, na segunda-
feira, Ailton foi seco. "Ela completa hoje (ontem) quatro dias de vida. Meu objetivo é vê-la boa, não estou preocupado com esse rapaz, mas quero justiça", disse ele, lembrando dos gritos da filha. "Malu desceu do carro e, quando eu estacionava, ela gritou: Pai! Vi o rosto do agressor, ele usava gorro, mas eu não o conhecia. Tentei segurá-lo, mas ele me atingiu. Mesmo muito machucada, com o sangue jorrando, ela ainda conseguiu tirar a faca dele e jogá-la longe, para que ele não me matasse", contou Ailton, emocionado. Para ele, Vitor pode ter usado alguma substância entorpecente. "Ele voltava de duas festas. De certo pode ter bebido, ao menos. Dizem que ele faz acompanhamento psicológico e que toma remédios, mas não sei se faz uso correto ou se consome outras coisas. Enquanto me agredia, ele falou: "Agora é com você". Esse rapaz estava com uma fisionomia atormentada, raivosa, carregada. Ele não estava tranquilo".

A faca de 20 centímetros de lâmina foi encaminhada à perícia. Segundo a delegada Daniele Aguiar, da 2ª
Delegacia Distrital Sul, a estudante "mal reparou" que Vitor estava na festa. "Ela disse que estava surpresa com a atitude do jovem. Por várias vezes, ele demonstrou interesse nela, mas nunca tinha sido agressivo até então", disse a delegada, que o indiciou por tentativa de homicídio contra Maria Luiza e lesão corporal contra o pai da moça. O estudante alegou que nutria pela colega um amor platônico e a atacou depois de vê-la conversando com um outro estudante na festa da faculdade. - Advogado e tio de Vitor, José Rattes de Carvalho disse que o rapaz está arrependido.Segundo ele, o sobrinho não usa drogas, mas havia bebido cerveja na festa. "Ele foi à festa do Dia de Saint Patrick, passou em casa e foi ao evento da faculdade, onde bebeu cerveja moderadamente. Vitor sempre foi um menino equilibrado, sem exageros e sabe que vai pagar pelo que fez", disse o advogado.

Carvalho comentou que a família está preocupada com a saúde mental do jovem e que ele já foi encaminhado pelo pai, que é médico, a um atendimento psicológico. A faca, segundo o advogado, ficava no carro para qualquer "eventualidade". "Somos fazendeiros e isso é natural (guardar uma faca no carro). Mas qualquer fato dessa natureza choca e, com certeza, há uma preocupação dos pais em relação ao filho. Vitor receberá atendimento e um especialista poderá definir melhor o que aconteceu".Ministério Público, que foi contrário. Segundo o promotor Paulo Roberto Santos Romero, o pedido se referia à fuga do rapaz, mas Vitor se apresentou à delegacia e confessou o crime. O jovem também não tem antecedentes criminais. No início da noite de ontem, o 1º Tribunal do Júri negou o pedido de prisão temporária, usando alegações similares às citadas pelo promotor de Justiça.

Na quarta-feira, o pedido de prisão temporária de Vitor Guilherme foi analisado pelo

Aluna de medicina, Maria Luiza Costa Pinto, de 21 anos, fala, pela primeira vez, sobre agressão:

Na enfermaria feminina do HPS, a estudante Maria LuizaCosta Pinto falou ontem ao Estado de Minas pela primeira vez sobre o crime que chocou a sociedade. Sem citar o nome de Vitor, ela se mostrou surpresa com a atitude violenta do colega de turma, com quem estudava há três anos. Ainda que a família cobre justiça, a jovem demonstra resignação e nenhum rancor. A jovem também agradeceu as orações e demonstrações de carinho e conforto que recebeu:

Estado de Minas - Como você se sente quando pensa que um colega de classe, que havia se declarado a você, a agrediu com facadas?

Maria Luiza Costa Pinto - Acho que foi um momento em que ele não estava bem, no normal dele. Foi um
susto muito grande, mas já passou.

Vocês eram próximos? Ele já havia tratado você de forma agressiva?

Éramos colegas de turma. Não éramos amigos nem fazíamos trabalhos juntos porque a
turma era dividida, mas convivíamos diariamente. Não sei o que se passou pela cabeça dele naquele momento, mas ele nunca me tratou mal antes.

Você quer que ele seja punido pelo que fez? O que você espera?

Não espero nada. Não quero julgá-lo, acho que ninguém pode fazer isso. Sei que a justiça vai ser feita,
não a nossa justiça. Ele vai perder muita coisa. Acho que já está pagando.

Do Estado de Minas


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